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    Zamiátin - Nós





    Buenas meus caros, como estão vocês? Espero, sinceramente que bem.

    Vocês não me conhecem, mas tenham certeza que eu sou como vocês, um apaixonado por scifi, disrupção, tecnologia, quadrinhos, cinema, papos dos mais malucos possíveis, teorias mirabolantes, pelo cosmos e é claro pelo bom e velho rock'n'roll.

    Quando nosso amigo Komiker perguntou se alguém queria escrever no Blog eu dei um passo a frente, pensei comigo, posso juntar as minhas paixões e escrever sobre elas, não é mesmo? Claro que sim, sendo assim lancei-me um desafio, comuniquei nosso mestre sobre o tal desafio, ele aceitou e quando a adrenalina baixou eu pensei cá com os tubos de minhas vestes; O que diabos se passa em minha cabeça para me autoflagelar falando sobre NÓS de Zamiátin? É claro que nada, mas eu havia terminado de ler Solaris e Piquenique a beira da estrada (Stalker), dois clássicos da literatura scifi Russa e Polonesa, complexos riquíssimos, adstringentes ao máximo, que ficam contigo, amarrando na boca e na cabeça e te fazem pensar, mesmo após semanas do termino da leitura, depois destas leitura, nada mais natural do que ler algo mais leve, correto, claro, mas foi daí que tive a brilhante ideia de ler NÓS, como eu disse, autoflagelação.

    Para escrevre sobre NÓS é necessário escrever primeiro sobre seu escritor e contextualizar você meu amigo das situações que levaram a gestação do livro.

    Zamiátin é considerado o pai da distopia moderna, inspirou escritores como George Orwell (1984) e Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo), consagrados por suas visões de sociedades distópicas e totalitárias, mas contrapostas em relação a si.

    Autor de vários contos, que constituíram uma crítica satírica do regime comunista russo, foi preso e exilado por duas vezes, não teve vida fácil em seu pais natal e morreu na pobreza em Paris, onde viveu exilado desde a comutação de sua pena de morte para exilio, este último, em definitivo; Engenheiro naval de formação era fã e tradutor de HG Wells e Jack London para a língua russa, ainda em 1917 após a Revolução, contribuiu escrevendo e editando vários jornais e revistas socialistas, inicialmente, um apoiador do regime bolchevique e da revolução vermelha, tornou-se um crítico ferrenho do regime conforme a censura passou a ser praticada, seus textos e artigos eram execrados, suas publicações proibidas e as montagens de suas peças de teatro, mesmo depois de aprovadas, eram canceladas, por diversas vezes apelou aos comitês de estado em seu favor, mas nem sempre resultavam no esperado, por volta dos anos 20 inicia o processo de criação de NÓS, mesmo sob forte censura e perseguição, termina o livro, mas não consegue publica-lo em seu país natal e apesar de não citar o estado diretamente numa crítica ao regime do pais, o comitê entende que este é sim uma obra crítica ao estado e obviamente não permite sua publicação, seus trabalhos foram banidos e ele proibido de publicar.

    Em 1931 escreve à Stalin e apela pela comutação de sua sentença de morte para exílio e no mesmo ano muda-se para Paris com sua esposa e vive lá até o fim de sua vida.

    É possível encontrar uma cópia desta carta na edição de NÓS lançada recentemente pela editora Aleph, assim como, na mesma edição há uma crítica de George Orwell sobre NÓS.  

    A leitura de NÓS perde um pouco de seu impacto e genialidade, em partes, creio eu, porquê Admirável Mundo Novo e 1984 chegaram antes as nossas mãos, fomos apresentados ao conceito de sociedade distópica por obras inspiradas por ele, isso não tira o mérito de sua criação, se por um momento, gentilmente esquecermos Orwell e Huxley e focarmos apenas em Zamiátin, então NÓS é genial e nos apresentada, no século 26, seres humanos desprovidos de seu individualismo, satisfeitos em fazer parte de um todo, iguais, numerados, matematicamente controlados em cada segundo de seu dia, seu passado foi "remodelado" e toda e qualquer emoção é proibida, agora imagine isto pensado, escrito e eternizado na segunda década do século passado, logo após uma das maiores revoluções que este mundo já viu, em pleno surgimento de um estado totalitário, onde pensar diferente ou simplesmente pensar era proibido, pensou? contextualizou? A imaginação, nesta sociedade é uma doença a ser extirpada, admitir a alma é uma doença, conformidade e obediência é o esperado, não há nem mesmo o sentido de posse e privacidade, ninguém está suposto a amar alguém, não há casais, ninguém pertence a ninguém e há apenas 1 hora no dia em que você tem sua hora particular, onde geralmente você está com alguém do sexo oposto e é somente nesta hora que cortinas se fecham em sua habitação de vidro. É neste mundo e neste cenário que você encontrará D-503, figura central de NÓS, que se envolverá com outro números que se libertaram desta prisão e tentam trazê-lo para seu grupo, daí por diante encontraremos D-503 enfrentando dilemas existenciais, sofrendo dividido entre o estado absoluto, a ordem e o benfeitor e o caos, uma possível paixão e um mundo de sentidos.

    Simplista, mas na tentativa de não entregar muito do livro, NÓS é leitura mais do que obrigatória para fãs de scifi e para mim é parte de um aprendizado sobre scifi russo.

    Complexo, um tanto quanto pesado e lento, mas é o tipo de livro que vai te prender, você não vai conseguir deixá-lo de lado.
     

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    NÓS foi adaptado para a televisão alemã pelo diretor tcheco Vojtech Jasný, em 1982, com o título de Wir.




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